Por que é tão difícil intervir na Síria?
Comunidade internacional esbarra no papel geopolítico da Síria na região e na ausência de legitimidade para agir em nome de todos
Incertezas e legitimidade
Segundo Pautasso, a coesão doméstica em torno do governo Assad, a relação Síria-Irã- Hezbollah, e as incertezas quanto aos atores que poderiam assumir o poder fazem da intervenção uma opção custosa. Pautasso lembra ainda, que a posição de não-intervenção da China e da Rússia (membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU) no sentido de “salvaguardarem o conceito de soberania” além de ampliar o protagonismo desses países, “exploram as contradições deixadas pelos EUA e OTAM com sua política de força”.
Para George Wilson dos Santos Sturaro, mestre em Relações Internacionais e professor de Relações Internacionais do UNICURITIBA, a maior dificuldade está na “ausência de um consenso internacional e, consequentemente, da legitimidade para agir em nome de todos”. Enquanto as potências ocidentais buscam pressionar o governo sírio por meio de resoluções do Conselho de Segurança da ONU, a Liga Árabe, assim como os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) vêm defendendo uma solução negociada para o conflito.
George Sturaro lembra que, China e Rússia – países que repreendem violentamente os movimentos separatistas em seus territórios - têm optado por uma solução pacífica para crise síria como forma de“impedir a consolidação da doutrina da Responsabilidade de Proteger”. Para o professor, esta doutrina tem sido o guarda-chuva moral das intervenções dos EUA, França e Inglaterra e OTAN na Líbia. No entendimento do especialista, “esse tipo de intromissão nos ‘assuntos internos’ causa apreensão em Pequim e Moscou”.
Assim como Pautasso, Sturaro destaca também o papel geopolítico do país na região ao ressaltar a influência Síria no Líbano; a demanda síria sobre as Colinas de Golã – tomadas por Israel em 1967 durante a Guerra dos Seis Dias; além das relações do país com movimentos islâmicos da região, como é o caso do Hezbollah.
Dessa forma, levando-se em conta as incertezas e os interesses geopolíticos envolvidos, tudo indica que o quadro geral dos confrontos na Síria permanecerá como está: coesão na condenação aos abusos e divergências quanto à intervenção no país.
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