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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

América Latina interrompida

 A história da América Latina tem sido marcada por uma série de interrupções. Aquela ideia de progresso contínuo, em que reformas são permanentemente o centro do desenvolvimento econômico, contaminou apenas o Chile ao longo de sua história. Os outros países, inclusive o Brasil, são rajados de lapsos de modernidade que em geral se perdem por políticas mal feitas. Essa percepção de torna ainda mais interessante hoje quando muitos consideram que o Brasil já é um país pronto para o crescimento, que não precisaria mais de grandes reformas. A inatividade dos primeiros seis meses da presidente Dilma sugeriria que não há muito mais o que fazer de reformas institucionais no país.

Para quem, como eu, não acredita que o grosso do trabalho já está feito pode ter em mãos um manual de América Latina, escrito por Sebastian Edwards, com o sugestivo nome de Left Behind: Latin America and the False Promise of Populism. O conteúdo é mais elegante, mas são inegáveis as lembranças do Manual do Perfeito Idiota Latino Americano, editado por Carlos Alberto Montaner e outros anos atrás. A história que Edwards conta é a de fracassos de países que tentaram escapar das sinas do subdesenvolvimento usando políticas populistas. É moda ainda em alguns rincões do continente, mormente Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina, mas vale aqui trazer a discussão feita sobre o Brasil.
Na avaliação do autor, o crescimento dos países passa por três fases. A primeira é de crescimento da produtividade, em que a eficiência e não o acúmulo de capital dá o tom do crescimento. A segunda seria dada pelas reformas institucionais, seguida da última fase que seria a acumulação de capital, em que tanto o capital humano quanto o físico crescem de forma a sustentar o crescimento. O autor considera que o Brasil ainda esteja na primeira fase, faltando muito ainda para chegar à segunda fase, no que concordo. Entretanto, escapa a Edwards que o Brasil quase alcançou avançar da segunda fase para a terceira. De FHC até o primeiro mandato de Lula passamos por crescimento de produtividade e um início de processo duradouro de reformas institucionais, que foram paralisadas no segundo mandato de Lula e assim permanecem nesse início de governo. Estávamos em velocidade de cruzeiro no projeto de reformas, quando o país começou a aumentar o acúmulo de capital humano e físico, mas sem terminar o processo de reformas. O que se verá é que esse pulo fictício para a terceira fase, tão alardeado pelo governo a todo o momento, não se sustenta porque justamente o período de reformas não foi prolongado e aqui o livro de Edwards é farto em exemplos de como estamos muito atrasados nessa área.
Sempre se esquece no Brasil que reformar não é um processo temporário, mas sempre permanente, sendo o Chile o exemplo máximo disso. Na década de 70, os chilenos se encontravam em pior situação que o Brasil. Em trinta anos de reformas ininterruptas aquele país está muito mais avançado que nós. Há esperança de mudança? Parece-nos que, no momento, não.

Esse artigo foi pubicado no Jornal Brasil Econômico.
Sergio Vale é economista-chefe da MB associados.






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