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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Mundo Sofreu um Retrocesso

Juliano da Silva Cortinhas

O mês de setembro, há dez anos, passou a ter importância histórica para as relações internacionais. Em 11 de setembro de 2001, o maior ataque ao território continental dos Estados Unidos foi realizado com sucesso, fato que levou a uma grande alteração na política mundial. Tais mudanças podem ser vistas a partir de três eixos interconectados:

O primeiro é o da política externa estadunidense. Os ataques de 11/09 possibilitaram aos neoconservadores do Partido Republicano implementar suas políticas unilaterais e intervencionistas, baseadas na visão de que os Estados Unidos são um país de exceção, que têm o direito de intervir no exterior para “civilizar povos menos evoluídos”, implementando seu modelo político-econômico. Tais medidas beneficiariam não só esses povos, mas também os EUA, pois aumentariam sua segurança, já que democracias não entram em guerra entre si. O 11/09 foi um grande facilitador da implementação dessa visão distorcida do papel dos EUA no mundo, pois possibilitou que a opinião pública daquele país aceitasse os altos custos desse padrão de inserção internacional, deixando o governo Bush com total liberdade para intervir no Afeganistão e no Iraque. A resposta, porém, foi mal formulada e não percebeu as exigências da luta contra um novo tipo de inimigo, que promove táticas contra as quais os investimentos já bilionários no aparato militar estadunidense não têm sentido.
O segundo aspecto importante é que essa mudança de rumo da política externa dos EUA, potencializada pela dissipação do medo na população do país, pode ser relacionada à atual crise da economia mundial. Os Estados Unidos são o fiel da balança da economia mundial. Se eles prosperam, o consumo internacional e a produção mundial crescem. Quando os estadunidenses estão com suas carteiras recheadas, aquecem toda a economia mundial. O déficit cada vez maior, decorrente de um aumento grandioso dos investimentos militares dos EUA, faz com que o país conviva com um orçamento desequilibrado. Os EUA não têm mais os fundos de que precisariam para reequilibrar suas contas e reerguer a economia mundial. Os mercados estão em uma corda bamba e a crise, antes somente econômica, agora também é política, tal o nível de divisão partidária em Washington.
Por fim, outro ponto importante a ser observado a partir do ataque às Torres é uma grande descrença nas instituições multilaterais, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Bush passou por cima dessas instituições, que, cada vez mais, precisam de uma grande reforma legitimadora (que não creio que acontecerá), que conceba uma estrutura mais adequada ao novo equilíbrio de poder mundial.
Em resumo, parece-me que, apesar de termos observado avanços em diversas áreas na última década, o mundo passou por um retrocesso. A ascensão do unilateralismo estadunidense desestabilizou a economia do país e do resto do mundo. O ódio e o antiamericanismo aumentaram. Assim mesmo, o sistema internacional está em constante evolução e há esperança de dias melhores.
Juliano da Silva Cortinhas é professor licenciado de Relações Internacionais do Unicuritiba e professor visitante na University of Delaware, EUA. Artigo originalmente publicado no jornal Gazeta do Povo, em 04/09/2011.

3 comentários:

  1. Para os Estados Unidos,os ataques do 11 de setembro de 2001 foram mais que catastróficos,em ambos os sentidos tanto no aspecto econômico,como na política externa,que passou a ser mais agressiva e com intervenções militarizadas,expandindo assim um ódio letal pelo mundo muçulmano,e sem mesmo saber quem realmente eram e são os seus inimigos,se são os muçulmanos,àrabes ou a profecia do islã de Maomé. Concordo plenamente quando você citou no artigo que o aspecto econômico pós 11 de setembro desestabilizou toda a esfera econômica mundial,pois como sabemos a maior parte dos países do mundo capitalizado,tem uma total dependência da economia norte americana e quando a mesma está em crise,é como se fosse um vírus,passa para todas as outras que interdependem entre si. As Políticas de intervenções militares da potência é outro ponto que também coloca não só a economia mundial em risco,como também a paz entre os estados. Por outro lado com o declínio da economia americana pós-atentados terroristas do 11/9/01. Os chineses chegaram ao posto de segunda maior economia do mundo,deixando para trás justamente os seus rivais japoneses,neste episódio todo,também abriram janelas para as outras economias emergentes,como as dos bric's como Brasil,India,Rússia e Àfrica do Sul que de certa forma passaram a ter mais poder de influência diante dos países mais ricos e da comunidade internacional,devido ao fator de ascensão econômica perante aos países desenvolvidos. A questão da credibilidade da ONU,ainda tira o sono de muitos chefes de estados,contrários a política americana,que não concordam com as atitudes tomadas pelo chefe de estado americano,e nem com a coalização internacional,formada apartir das votações e resoluções do conselho de segurança da ONU,que na maioria das vezes,o resultado é pró-ocidente,e isto acaba por descaracterizar a idoneidade,imparcialidade e a autonomia do conselho de segurança deste organismo. A investidura maciça de uma reforma neste organismo,que abrace os anseios de todos os países membros e não somente os de poder de veto,talvez angarie maior credibilidade e poder de coerção para os países que porventura possam querer inflingir as leis vigentes que estão contidas na Carta Das Nações Unidas.

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  2. Olá
    A última frase ficou sem maiores explicações.
    Como podem haver avanços se uma das maiores potências econômicas não respeita princípios básicos de direito internacional?
    Aliás, não é de hoje, o silêncio sobre o 11 de setembro de 1973 e inúmeras outras intervenções dos EUA na América Latina (e no mundo) é incômodo.
    Concordo que seja um grande retrocesso, mas que sistema é este que estava sendo construído? Seria o sistema internacional de proteção dos direitos humanos? Seria o sistema multilateral de comércio?
    Enfim, a complexidade da questão nos convida a um debate sério e comprometido com o futuro das relações internacionais.
    Parabéns pelo texto, diretamente da terra do Tio Sam, lhe homenageio é com estas duras críticas!

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  3. Grande Luiz, valeu pelo comentário. Acho que foste direto aos pontos mais falhos sobre o texto. A Gazeta me deu 3000 caracteres para falar sobre a questão. Não é um trabalho fácil. Bom, vamos às tuas colocações. A última frase está pautada na teoria construtivista de RI, que entende que o sistema internacional está em constante transformação. Para eles, a tendência é uma evolução constante, apesar de entenderem que há também retrocessos. A ideia não está clara no texto, mas a intenção era, somente, quebrar um pouco todos os pontos negativos apontados ao longo do artigo e mencionar que, apesar de toda a negritude do momento em que vivemos, não considero ele decisivo. Pode haver uma mudança de paradigma. PODE haver, mas é somente uma esperança, não uma crença particular que eu nutra.
    O sistema que eu menciono é um sistema mais baseado em regras do que um sistema somente baseado na força e nos constrangimentos que vimos, pelo menos, até a Segunda Guerra. Apesar das diversas incoerências do momento em que vivemos, também há pontos positivos, como o aumento das relações de comércio e a solução de diversas controvérsias no âmbito da OMC e a ausência de guerras entre grandes potências, somente para citar dois. Os DH e a já citada OMC são questões muito importantes hoje, apesar de também haver falhas em ambas as estruturas. Enfim, a coisa está preta, mas sempre há possibilidade de encontrar uma luz no fim do túnel. Não acredito piamente na tese do declinismo americano ou da emergência de novas crises que vão desconstruir o sistema de regras por completo.

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