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domingo, 28 de agosto de 2011

A crise do endividamento dos Estados Unidos: uma nova etapa da maior crise estrutural do capitalismo mundial.

Por Carlos-Magno Esteves Vasconcellos.
O dia 02 de agosto de 2011 já faz parte da história do capitalismo mundial. Neste dia, o Senado dos Estados Unidos (EUA) aprovou o acordo para mais uma elevação da dívida federal norteamericana, firmado entre Democratas e Republicanos, um dia antes, na Câmara dos Deputados. Graças a esse acordo, o país evitará – pelo menos por enquanto – declarar-se insolvente no mercado internacional.

Apesar da indiferença com que muitos observaram a decisão do Senado dos  EUA, o acontecimento merece algumas reflexões. Em primeiro lugar, é bom lembrar que os Estados Unidos não são um país qualquer.  Trata-se da maior potência econômica do planeta. Uma economia que assumiu a liderança do capitalismo internacional após a 2ª Guerra Mundial e que, desde então, vinha funcionando como o motor propulsor de todo esse sistema econômico. Seu enfraquecimento por insuficiência financeira é um forte sintoma da crise geral que envolve o capitalismo mundial.
Em segundo lugar, vale à pena se perguntar: qual o significado da crise do endividamento dos Estados Unidos? Será essa uma crise meramente conjuntural, como nos tem feito crer os analistas econômicos mais renomados?
Essas questões têm sido obscurecidas pela maneira como a opinião pública vem tratando o assunto. De modo geral, a abordagem tem passado longe da natureza da crise e se concentrado preferencialmente no remédio para sua cura: aumentar impostos, como pretendem os Democratas, ou reduzir gastos, como preferem os Republicanos?
Como podemos responder a essa questão se não conhecemos a natureza mais íntima da crise? Paul Krugman, economista norte-americano ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2008, tem escrito abundantemente sobre o assunto, na tentativa de colocar um pouco de ordem nesse debate de malucos. Mas o que tem ele dito? Basicamente o seguinte: essa crise atual encontra suas raízes mais profundas na crise econômica de 2008 (a crise do mercado imobiliário) e nas crescentes taxas de desemprego que assombram a economia norte-americana desde o início do século XXI (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18253).
Como solução para a retomada do crescimento Krugman propõe “... medidas agressivas para reduzir a dívida familiar mediante o refinanciamento das hipotecas.” e “… um esforço da parte da Reserva Federal para tratar de, usando todos os meios possíveis, colocar a economia em movimento com o objetivo declarado de gerar mais inflação a fim de aliviar os problemas de endividamento”.
Ora, o professor Krugman é um fanfarrão, um galhofeiro! Acontece, que o momento atual vivido pelo mundo não está para brincadeiras. Qual o motivo do desemprego crescente dos norte-americanos? Qual o motivo da crise do mercado financeiro em 2008? Responder a essas interrogações certamente nos ajudaria a entender a crise atual de endividamento dos Estados Unidos. Mas essas questões estão insistentemente marginalizadas no debate sobre a crise atual.
A verdade é que a crise atual dos Estados Unidos tem raízes muito mais profundas que imagina o sr. Krugman e seus comparsas. Ela é mais uma etapa da crise estrutural que se abateu sobre o capitalismo mundial, desde a década de 1970, em razão da queda generalizada das taxas de lucros internacionais e das políticas econômicas keynesiano-liberais colocadas em prática para tentar remediá-la. Ela é conseqüência direta do capitalismo financeiro-parasitário que tomou conta do sistema mundial a partir do final dos anos 70, com a desregulamentação dos mercados financeiros e o excessivo endividamento de famílias, empresas e governos daí decorrentes. Ela também representa o esgotamento de mais uma fase (quiçá, a derradeira) de expansão do capitalismo como modo de produção mundialmente dominante – a fase do capitalismo sob a hegemonia internacional dos Estados Unidos, visto que o capitalismo financeiro-parasitário é a última forma de existência do capital. Nessa perspectiva, ela não é sequer uma crise exclusivamente norte-americana, mas mundial, visto que alcançou o âmago do sistema global, levando-o à exaustão.
A crise que o mundo presencia atualmente é uma crise de liquidez, contrariamente ao que muitos economistas e jornalistas mal informados têm divulgado. A crise de liquidez somente existe em economia, quando não há mais perspectivas de lucratividade ou rentabilidade estimulante. Nestas condições os investimentos minguam, e os empregos evaporam. As crises de liquidez são provocadas por superprodução de mercadorias, fênomeno típico e característico do modo de produção capitalista. De 1970 para cá, esta crise tem sido amenizada pela financeirização do capital - migração do capital da esfera produtiva para a esfera especulativa - onde a rentabilidade é fictícia, conseguida através da inflação (elevação contínua do nível geral dos preços de papéis), assim como pelos excessivos gastos públicos e privados. No tocante aos gastos públicos os Estados Unidos ocupam um lugar preponderante. Vêm vivendo há mais de 5 décadas muito acima de suas reais possibilidades econômicas. Mas, a farra parece estar chegando ao fim. Não há nada que justifique a existência de uma economia mundial tão irracional como a que foi moldada sob a liderança norte-americana após 1945.
De conjuntural essa crise não tem nada. E, por isso, não pode ser enfrentada com remédios paliativos. Como crise estrutural que é, exige transformações estruturais do sistema econômico mundial para sua superação. De outro modo, conduzirá o mundo inteiro a um processo de degeneração irrefreável. 

Carlos-Magno E. Vasconcellos é Doutor em Economia pela Escola Superior de Economia de Varsóvia, Polônia e Professor titular das disciplinas de Economia Política Internacional e Empresas Transnacionais no Curso de Relações Internacionais do UniCuritiba. 

Um comentário:

  1. Até então não houve uma explicação mais concreta e com maior clareza pelas autoridades econômicas e monetárias dos USA,o que se viu foi um discurso merabolante e vazio do chefe de estado americano,pedindo aos republicanos para que os mesmos,juntamente com os democratas autorizassem o aumento de gastos do governo americano,para evitar um possível calote aos credores dos seus títulos e também por causa da escassez de recursos financeiros para o mesmo honrar seus compromissos e pagamentos aos funcionários públicos do estado. Por outro lado as autoridades monetárias e econômicas americanas só espalharam o medo,o risco e as possíveis catástrofes que a crise provocaria a curto e a longo prazo,mas nenhuma delas se quer explicaram ou citaram o por que da crise ter chegado a este nível alarmante,colocando em risco as economias dos países emergentes,que passaram a respirar aliviadas apartir do ano de 2010,quando passou o furação da crise de 2008,deixando nestas economias de transição uma levada de grandes prejuízos e recessão. A gente sabe que os americanos gastam muitos recursos de sua economia com guerras,que se tornam infinitas e que consomem um absurdo de seus recursos,outro ponto é a deficiência grande no controle de gastos públicos do governo,que nos últimos anos tem aumentado e muito,tanto na Europa como no Continente Americano,outro fator chave é o efeito glogalização econômica que tem provocado a saída de muitas empresas americanas dos USA para outros países,com economias de vasto crescimento e com muitos incentivos fiscais dos governos e barateamento da produção dos seus produtos. Todos estes fatores e demais outros que não foi citado aqui,contribui e muito para um desaquecimento da indústria,e ao mesmo tempo com este deslocamento e saída destas empresas,deixam uma lacuna grande,no que diz respeito a taxa de desemprego,onde o número de desempregados só tende a aumentar com este efeito imigratório das empresas dos países de economias forte,pois menos empregos,menos arrecadação de impostos,causando desequilíbrio na balança interna de arrecadação e de gastos públicos de um estado,dar para notar que falta um equilíbrio nas contas dos governos e também responsabilidade na aplicação dos recursos arrecadados,assim como a falta de políticas voltadas para dentro dos estados,ou seja,não consumir mais do que arrecadar.

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