Páginas

terça-feira, 3 de maio de 2011

UM CASAMENTO, UMA MORTE E UMA ROSA PÚRPURA

Marlus Forigo
Filósofo e Cientista Político

Meu desejo inicial era escrever sobre o enlace matrimonial do século, afinal foi a primeira vez, depois de muitos desenhos animados e filmes de contos de fadas, que tive a oportunidade de acompanhar, em minha existência hodierna, o casamento de um príncipe de verdade. Porém, as coisas no mundo real não acontecem como no universo onírico e a morte de Osama Bin Laden pôs fim ao êxtase que me envolveu, desde o momento em que vi, pela televisão, o Príncipe William chegando às portas da Abadia de Westminster. Se alguma parte de mim, não se solidarizava com os norte-americanos em seu ódio ao líder da Al Qaeda, ela foi aniquilada junto com meus devaneios principescos e por isso vocifero:
_Maldito seja Osama Bin Laden por ter arrancado a mim e a outros bilhões de pessoas, do mar de fantasias que havíamos mergulhado, pois sua morte simplesmente arrancou dos noticiários a imagem singela do jovem casal real e me fez sentir a obrigação de escrever sobre ela.
            A morte de Osama Bin Laden possui, segundo minha modesta opinião, três significados relevantes. O primeiro é ter aplacado o desejo de vingança dos americanos pelo atentado de 11 de setembro ao território da liberdade, em particular, ao World Trade Center, que não somente ceifou a vida de quase três mil pessoas, como também se constituiu num gesto de traição para com o governo que em nome da liberdade e da democracia treinou Osama e seus seguidores talibãs no Afeganistão contra o invasor soviético. A lição dada aos traidores e aos maus em filmes de ação como Rambo saíram das telas e foram para o mundo concreto. Finalmente a vingança foi feita. Envolveu as pessoas que se dirigiram à frente da Casa Branca quase que da mesma forma que foi envolvida a personagem vivida por Mia Farrow na película metalinguística “A Rosa Púrpura do Cairo”, em que o ator principal do filme que ela assistia pela quinta vez seguida, interpretado por Jeff Daniels, sai da tela para lhe oferecer uma nova vida. A morte de Osama foi uma nova vida, uma vida vingada, oferecida pelo herói Barack Obama.
            Com isto chegamos ao segundo significado da morte de Osama Bin Laden que é o de servir como propaganda ideológica para o atual presidente da maior potência do planeta. Pensando friamente como Maquiavel, a morte do terrorista leva o Partido Democrata à um sentimento de perda e Obama à uma expectativa: perda porque os democratas devem estar lamentando que a morte de Osama não tenha ocorrido alguns dias antes das eleições de outubro de 2010, em que o Partido Republicano conquistou a maioria das cadeiras no legislativo americano, tornando mais difícil a vida do presidente. Para Obama, a expectativa resulta da possibilidade de este acontecimento ser capitalizado de forma positiva e decisiva para seu projeto de reeleição, uma vez que economicamente as coisas não andam muito bem para a nação mais poderosa do hemisfério norte.
            Por último, a morte de Osama Bin Laden não significou o enfraquecimento da Al Qaeda, muito menos o fim do terrorismo, como exaustivamente apregoam os analistas internacionais de plantão, ou ainda como disse Ban Ki-moon, Secretário Geral da ONU, que a morte de Osama foi “um divisor de águas”. Foi algo mais pessoal, foi uma vitória contra o homem que além de assassinar 2977 pessoas, disseminou o medo no coração de toda uma nação. Para um povo acostumado a competições, onde até ganhar no jogo de par ou ímpar é uma questão existencial, o gosto da vitória sobre o adversário sempre é bem vindo.
            Agora se isso foi bom para o resto do mundo, não vou entrar no mérito da discussão, mas particularmente acho que pouco ou quase nada vai mudar; os Estados Unidos continuarão com suas políticas antipáticas e imperialistas e novos atentados ocorrerão (infelizmente). Quanto a mim prefiro voltar a falar do casamento do príncipe da Inglaterra... foi digno de minhas lágrimas de comoção... e o que dizer então do vestido da Kate Middleton... simples e ao mesmo tempo luxuoso...

5 comentários:

  1. Querido Prof. Marlus, não conhecia sua vocação para comentarista de estilo, moda para noivas e grandes eventos como casamentos e funerais. De qualquer modo, não acho que um evento tenha anulado o outro, foi uma overdose de matrimônio real. Agora e por algum tempo teremos muito sobre a morte de Osama Bin Laden e toda repercussão em debate e também em acontecimentos que estão por vir!! Um abraço.

    ResponderExcluir
  2. Grande Marlus!! Excelente o artigo. Divertido e preciso. Além, é claro, do fato de que o postaste com uma foto muito peculiar, de um nobre, digno da temática abordada. Amanhã, na Gazeta do Povo, sai um artigo meu sobre o mesmo tema. A análise é muito próxima. Concordo com os pontos de vista. Um abraço.

    ResponderExcluir
  3. Muito boa a postagem, cabe de nós agora ver o que os rebeldes irão fazer. É a hora dos EUA realmente provarem que são uma super potência. Pois mataram um ícone, se é que realmente morreu... Agora só o tempo irá dizer. Parabéns Marlus.

    ResponderExcluir
  4. Marlus não vou entrar aqui em detalhes sobre os fatos ocorridos,porque concordo plenamente com suas palavras descritas no artigo postado,na minha opinião todas com sentidos e fundamentos exatos,não há possibilidade de discordância em hipótese alguma,tudo que foi citado é a realidade atual da política intervencionista americana e que não vai mudar tão cedo. artigo excelente!!! obs: agora eu discordo destas suas lágrimas de comoção ao assistir o casamento real. risos risos risos risos!!!!

    ResponderExcluir
  5. Gostei muito do que você disse, acabou manifestando o desejo de todos nós brasileiros em dizer tudo que foi dito.

    ResponderExcluir