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segunda-feira, 18 de abril de 2011

São as estratégias utilizadas pelos EUA e aliados as melhores para lidar com os atuais conflitos? Parte II

Por Fernando Archetti*

O conceito de guerra híbrida demonstrou sua validade empírica no atual ambiente de segurança internacional, envolvendo uma combinação de novos atores (terroristas transnacionais, insurgências de caráter global, gangues criminosas, narcotraficantes, empresas privadas de segurança, piratas, grupos tribais/ regionais com recursos pós-modernos, mas estruturas e ideologias pré-modernas) com novas tecnologias (KILCULLEN, 2008), embora antigas ameaças e modos tradicionais de guerra não tenham desaparecido, apesar de não mais predominarem (VISACRO, 2009) ou não receberem o devido destaque ou cobertura pelas agências internacionais.

Novas formas de guerra incluem as já mencionadas guerrilhas transnacionais (em oposição às guerrilhas locais ‘’acidentais’’), enquanto entre as novas tecnologias podem-se mencionar os meios de comunicação, como a Internet.
Assim, coexistem, nesse ambiente híbrido, ameaças antigas e novas, combinando-se e utilizando-se de meios pós-modernos. Deve-se ressaltar que as guerras interestatais não acabaram, como demonstram o conflito na Geórgia em 2008, de Israel no Líbano em 2006, da coalizão Ocidental no Afeganistão e até mesmo da OTAN na Líbia, em 2011. O conceito do fim das guerras interestatais deve ser entendido apenas no contexto dos conflitos da ‘’guerra ao terror’’.
Para explicar algumas das principais características desse complexo ambiente de segurança, utilizar-se-á os quatro modelos explicativos propostos por KILCULLEN (2008): a tese da globalization backlash, o modelo da insurgência globalizada, a teoria da guerra civil islâmica e o modelo da guerra assimétrica.
O primeiro modelo, globalization backlash (espécie de resposta negativa da globalização), sugere que há um padrão que perpassa os conflitos atuais e que é uma resposta a um elemento-chave, a globalização, em que um tipo de backlash contra a globalização fornece aos conflitos seu princípio organizativo.
Isto é, partindo da premissa que a globalização não é uniforme em seus efeitos e que criou uma divisão entre os possuidores ou não de recursos, enquanto, por meio da comunicação global, esta  classe de despossuídos se  conscientizassem dessa situação, criando assim um clima de tensão. Além dos efeitos desiguais no plano econômico, a globalização também deu origem a respostas negativas, muitas vezes violentas, no plano cultural e político, contra a influência crescente da política e cultura Ocidental, das consequências negativas da globalização (e.g., desestabilização de sociedades tradicionais e de mercados nacionais). Segundo Barnett (2007), o mundo fica divido entre os países que estão efetivamente integrados no processo da globalização, países ‘’core’’, e os à margem desse processo, países ‘’gap’’. Para ele, os conflitos emergiriam da instabilidade dentro dos países ‘’gap’’.
Esse processo de globalização permite que seus adversários tenham acesso aos seus instrumentos. Contraditoriamente, seus opositores são alguns dos atores mais globalizados, que usam as ferramentas da globalização, assim como a proliferação de armas de baixo custo e grande poder letal ocasionada por esse processo, contra ela mesma. Além disso, essas ferramentas permitem que grupos geograficamente remotos conectem-se entre si, para ‘’juntar forças’’. Assim, áreas à margem do poder estatal, como as FATA no Paquistão passam a ter importância como refúgios de  insurgentes e pontos onde se iniciam ataques a outros locais.
O segundo modelo explicativo, a insurgência globalizada, de cunho político-estratégico, afirma que a guerra do terror é mais bem entendida como uma insurgência globalizada transnacional de larga escala, em que a Al-Q’aida e os outros grupos de ideologia takfiri, pensamento originário do wahabismo que legitima o assassinato de outros muçulmanos (proibido no Alcorão),com base na lei islâmica acerca da apostasia cuja pena prevista é a morte,ou seja,os takfiri procuram provar que determinado muçulmano abandonou a fé para assim legitimarem juridicamente a violência contra ele. O que ela busca liderar são insurgentes, que usam as estratégias padrão desse fenômeno: provocação, intimidação, prorrogação e exaustão, diferindo das insurgências tradicionais por terem objetivo muito mais amplo e operarem mundialmente, para alterar a ordem política no mundo muçulmano e a relação entre o mundo e a comunidade muçulmana (ummah).
A teoria da guerra civil no Islã tem um foco geopolítico e sugere que a turbulência no mundo islâmico e o ‘’transbordamento’’ dessa violência para a comunidade internacional através da insurgência globalizada e terrorismo, tem origem em uma guerra civil dentro do Islã. Nessa teoria, os grupos takfiri surgem como resposta à uma dinâmica dentro do mundo islâmico: governos corruptos e opressivos, relação disfuncional entre os sexos, limitando a capacidade humana dessas sociedades, déficit de democracia e liberdade de expressão, economia dependente de petróleo e incapaz de empregar uma massa crescentemente qualificada, porém alienada, de jovens homens e um sentimento geral de se estar sendo vitimado por um ‘’Ocidente’’ vagamente definido.
Por fim, tem-se a tese da guerra assimétrica, em que o foco é a análise a partir de um ponto de vista militar, ao invés de político. Segundo essa tese, basicamente, a lógica subjacente do terrorismo, da insurgência, conflitos internos e da ‘’guerra não-convencional’’ origina-se na enorme assimetria entre o poderio bélico e tecnológico dos EUA e do resto do mundo. Essa assimetria faz com que qualquer adversário racional dos EUA use meios não-convencionais para combatê-lo, já que nenhum país ou combinação de países é capaz de vencer os EUA em um conflito convencional. Daí as estratégias de propaganda e subversão, ataques terroristas, guerrilhas, armas de destruição em massa, dispositivos explosivos improvisados, tentativas de atrair as forças convencionais para conflitos prolongados em que há pouco ou nenhum ganho estratégico, correndo o apoio da opinião pública pela guerra.
Essas possíveis explicações do atual ambiente de segurança internacional, assim como outras - o choque de civilizações de Sammuel Huntington, a 4ª geração de guerra etc. -, são apenas explicações parciais e cada uma delas tem o mérito de explicar alguns aspectos desse ambiente e outros não, não sendo mutuamente exclusivas, nem melhores umas que as outras (KILCULLEN, 2008).
Na próxima parte desse ensaio, serão analisadas as estratégias que os EUA e os aliados têm empregado nessas situações no contexto da guerra global ao terror.





* Fernando Archetti é aluno do Terceiro Período da Graduação em Relações Internacionais do UNICURITIBA.

3 comentários:

  1. talvez os USA e seus aliados queiram acalmar o nervosismo sistemático dos grupos terroristas e insurgentes dos países árabes e de culturas islâmicas,mas como acompanhamos os acontecimentos e fatos,com o passar do tempo,não tem surtido muitos efeitos nestes conflitos,pois são muitas ideologias em jogo e culturas muito centradas na religião,onde a mesma está acima de qualquer lei,gerando assim uma impregnação dos povos a cultuação mais radical frente as outras culturas ocidentais,como temos visto a ira destes povos com relação ao ocidente é de um explendor enorme,pois se analisarmos com cuidado chegamos a um ponto em que estes povos foram vítimas dos ocidentais no passado,tiveram uma colonozação escravocrata do velho mundo e estão dividos em vários contextos,devido também a formação de várias etnias com conceitos e ideias de governo congruentes. no passado a presença dos ocidentais neste países eram justamente a busca de riquezas,escravição e expansionismo territorial,e atualmente o que se passa na imaginação dos orientais é justamente estes conceitos,o próprio ditador Kadafi da Líbia quando soube da resolução da ONU falou a sua tv estatal e para os meios de comunicação do mundo,que seria mais uma cruzada do ocidente contra o oriente e nós que ficamos cientes desta notícia sabemos que nas palavras que ele citou existe um teor verdadeiro,porisso que as estratégias dos USA e seus aliados não são bem-vindas a nenhuma nação,devido também ser uma política de dominação,imposição e implantação de formas de governos do ocidente em países fundamentalistas islâmicos onde se sabe que é muito complicado querer implantar um sistema totalmente diferente a força,seja qual for a intenção proteger os civis,a liberdade de expressão,crimes contra os direitos humanos etc.
    pensando bem chegamos a uma conclusão que a soberania das nações inferiores nos quesitos principalmente de economia e poder bélico,estão com seus direitos de soberania ameaçados pelas potências ocidentais e são vários os discursos do ocidente,um deles que tanto o Alain Juppé ministro das relações exteriores da frança cita é a proteção dos civis líbios do regime do Kadafi,mas isto é apenas o começo de uma batalha em que muito sangue será derramado em terras orientais e nunca se saberá qual mesmo será a doze certa para a resolução destes conflitos de interesses ocidentais.

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  2. Do ponto de vista de dar uma resposta à própria sociedade americana e à internacional, em que as torres foram destruídas com imagens sendo transmitidas ao mundo inteiro, é compreensível. Em si, o ataque do 11 de setembro não representou uma ameaça à segurança nacional dos EUA, nem teve de per se consequencias materiais maiores. O que o tornou tão significativo foi a cobertura midiática. No entanto, embora uma resposta fosse necessária, não acredito que se tomou a certa, muito menos se escolheu a abordagem correta.
    Abs,
    F. Archetti.

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  3. É imprescindível que ataques desta natureza,provoque desgastes tanto dos governos envolvidos nestas operações militares,quanto no desfecho da ONU que aprovou esta resolução,como forma de dar respaldo a comunidade internacional e acalmar a afoitice do ditador líbio para com seus povos,ou seja mostrar aos países envolvidos ou não envolvidos,que a própria ONU ainda tem poder de fogo e legitimidade perante a soberania das nações que estão sujeitas a seus tratados internacionais. mas por outro tudo isto gera um efeito domino,ou seja os grupos terroristas se multiplicam ou energizam ainda mais suas aspirações e desejos de provocar atentados contra países que consideram ser inimigos de ALA. evidentemente que estas ações muitas vezes são ações que contrariam os interesses coletivos de muitos países e principalmente os fundamentalistas islâmicos,devido ao fato de serem o berço fornecedor do petroléo àrabe aos europeus,onde estas questões são bem difundidas nos discursos dos chefes de estados orientais,quando são questionados sobre as ações militares do ocidente em sua região.

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