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sexta-feira, 1 de abril de 2011

25 anos de Plano Cruzado

Patricia Tendolini


No mês de fevereiro “comemoramos” 25 anos de uma das experiências mais eufóricas e, em contrapartida, mais traumáticas de nosas economia: o Plano Cruzado. A data passou quase despercebida pela mídia em geral, mas certamente causa arrepios em muitos brasileiros ao ser lembrada.
Em janeiro de 1986, a inflação medida pelo IPCA mensal fora de 14,37% e no ano de 1985 havia se acumulado em 232,23%. O governo fizera, ainda sob o comando do Ministro Dornelles, uma tentativa ortodoxa de combate ao dragão da inflação (era assim que o tal “bicho de sete cabeças”era chamado) em 1985, sem sucesso.


O fato é que, na manhã de 28 de fevereiro de 1986, a população brasileira acordou com um pronunciamento do presidente Sarney, em que declarava congelamento geral de preços, congelamento da taxa de câmbio e reforma monetária com a substituição do Cruzeiro pelo Cruzado, dentre outras medidas.  Argentina e Israel já haviam passado por experiências semelhantes, até aquele momento bem sucedidas, levando o então Ministro da Fazendo Dílson Funaro, a adotar o caminho heterodoxo de combate à inflação.
O resultado muitos conhecem: um estrondoso sucesso inicial a ponto de as pessoas se auto denominarem fiscais do Sarney e saírem às ruas fiscalizando e denunciando estabelecimentos que ousavam descumprir o congelamento. Entretanto, o aquecimento da demanda, o desabastecimento de alguns mercados, somados a outros fatores levaram a pressões inflacionárias, crescente insatisfação e, finalmente, fracasso do plano.
Sucederam o Plano Real os planos Bresser e Verão, ainda no governo Sarney; Collor I e Collor II, no governo Collor; e Real, no governo Itamar Franco. Foram novos congelamentos desastrosos, políticas de aperto fiscal e monetário e até mesmo confisco do dinheiro; mais de uma década de tentativas fracassadas e o convívio entre hiperinflação e baixo crescimento.
A data é emblemática uma vez que hoje, quando a inflação ameaça atingir o limite superior da meta (as previsões iniciais é que a inflação de 2011 chegue a 6,5%) já causa calafrios na equipe econômica.
Uma geração inteira, que hoje inclusive já integra o mercado de trabalho, não conviveu com os reajustes mensais (chegaram inclusive a ser diários) de preços: nunca viveu na prática o fenômeno da indexação, não vive a incerteza em relação a novas medidas do governo, é incapaz de imaginar os preços aumentando vinte, trinta por cento ao mês.
A importância da conquista da estabilidade não pode ser minimizada: ela permite aos investidores horizonte de planejamento, às pessoas previsibilidade em relação ao futuro, e ao governo a possibilidade de priorizar outros pontos da política econômica, como o crescimento econômico e a inserção internacional.

Patricia Tendolini é professora de Economia Brasileira e Introdução à Economia no UNICURITIBA

3 comentários:

  1. Com certeza a conquista da estabilidade foi um dos grandes avanços econômicos do Brasil (se não o maior) nos últimos tempos. Apesar da contínua preocupação do Banco Central no controle da meta e em algumas dificuldades atuais em atendê-la, nada se compara à desestruturação e à incerteza do cenário hiperinflacionário do passado. É um aniversário de 25 anos que não nos deixa saudades!!!!

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  2. Querida Patrícia, muito bem lembrada a passagem do aniversário de 25 anos do Plano Cruzado. Do ponto de vista econômico, como você diz, esse plano saldou-se por um tremendo fiasco. É, hoje, retratado nos livros de economia brasileira como um defunto fedorento de más lembranças. Mas, do ponto de vista político, o Plano Cruzado teve resultados bem interessantes. Influenciou fortemente o processo eleitoral de 1986, permitindo que PMDB, PFL e PDS tomassem conta da Câmara Federal, com cerca de 85% das cadeiras. Foi o maior estelionato eleitoral da história do Brasil republicano. Mais um motivo para esquecê-lo.
    O controle da inflação somente foi alcançado (muito mais ou menos) com o Plano Real de Itamar Franco. É inegável que o controle inflacionário fez bem para a sociedade. Os trabalhadores pararam de ser roubados via desvalorização monetária (a inflação transferia renda dos trabalhadores para os empresários). Mas a inflação também serviu durante mais de um século ao processo de acumulação capitalista no Brasil. Foi o caminho que as elites empresariais e políticas nacionais encontraram para financiar o crescimento econômico de nossa economia (poupança forçada).
    A economia brasileira de hoje é, em larga medida, fruto da inflação das décadas anteriores.
    Um beijo pra você.

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  3. Olá Patrícia querida. Excelente lembrança a sua! Eu vivi estes tempos de incerteza e de inflação altíssima... não era fácil. A estabilidade econômica foi uma das grandes conquistas do Brasil.

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