Os jovens, no espírito da contracultura, foram decisivos na Guerra do Vietnã. |
Rafael Nicolau
Durante a Guerra Fria, um conflito chamou destaque entre todos os demais, a Guerra do Vietnã que durou de 1961 a 1975 sendo a guerra mais duradoura da historia da civilização como a conhecemos hoje. A retirada dos EUA do conflito e a forte pressão da população contra a guerra comprovaram a existência de diferentes atores nas Relações Internacionais, que não eram apenas os Estados nem Organizações Internacionais. A opinião pública e os movimentos de contracultura se colocaram como importantes fatores de intervenção nas ações dos Estados, como exemplo, os EUA que tiveram de se retirar do Vietnã pressionados pela população que se opunha fortemente a guerra.
Atualmente vivemos um mundo resultado de vários conflitos, sejam eles, com fins de imposição de certa ideologia ou por dominação de um determinado território.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial o mundo se dividiu em duas partes, uma capitalista liderada pelos Estados Unidos e a outra socialista liderada pela extinta União Soviética gerando um conflito de princípios e interesses culminando na então denominada Guerra Fria, onde esses dois países travaram conflitos “indiretos” pela adoção do resto do mundo de suas ideologias, como, por exemplo, as ditaduras nos países Latino Americanos e o socialismo nos países asiáticos.
Durante a Guerra Fria, um conflito chamou destaque entre todos os demais, a Guerra do Vietnã que durou de 1961 a 1975 sendo a guerra mais duradoura da historia da civilização como a conhecemos hoje.
O conflito foi o primeiro televisionado na história, mostrando os verdadeiros horrores das lutas armadas e da irracionalidade do conflito que gerou morte e destruição para um pequeno país no sudeste asiático.
Por ter sido televisionada, a mídia estadunidense teve um papel fundamental na construção da opinião pública que em um princípio defendia em grande parte a intervenção de seu país, no entanto, no decorrer do conflito a grande maioria se voltou contra a luta após perceber as razões e intenções de seus presidentes durante a guerra.
A retirada dos EUA do conflito e a forte pressão da população contra a guerra comprovaram a existência de diferentes atores nas Relações Internacionais, que não eram apenas os Estados nem Organizações Internacionais. A opinião pública e os movimentos de contracultura se colocaram como importantes fatores de intervenção nas ações dos Estados, como exemplo, os EUA que tiveram de se retirar do Vietnã pressionados pela população que se opunha fortemente a guerra.
Os movimentos de contracultura causaram uma forte pressão dos jovens para com o status-quo em que seus pais os criavam, sendo totalmente contra os ideais que vinham de geração a geração. O movimento hippie em especial gerou uma movimentação de um porte nunca visto no mundo. Muitos jovens abandonavam a sociedade tradicional e adotavam a vida em comunidades à parte do mundo, criando uma nova cultura que pregava sempre a paz a cima de tudo.
O movimento hippie se espalhou pelo mundo, atingindo vários países. No Brasil, os hippies tiveram grande importância com a Tropicália, que incorporou elementos da cultura jovem mundial como a psicodelia e o rock para lutar contra a ditadura brasileira entre 1967 e 1968. A movimentação do jovens começou quando a chamada "Geração Maio de 68" na França realizou uma série de greves nas universidades e escolas secundárias de Paris, que mais tarde gerou a ocupação de fábricas em toda a França.
Os hippies, os jovens e os que lutavam pelos direitos civis criaram uma nova cultura. De alguma forma eles se uniram para a criação dessa forma de viver que juntava todos os valores que cada um deles acreditava. Esta cultura se propagou pelo mundo e permanece até hoje. Na cultura jovem, com o passar dos anos, apenas mudaram as personalidades, os objetivos continuam os mesmos, a luta por uma sociedade livre das desigualdades que ainda hoje existem.
Bob Dylan, vindo de uma infância dura, (durante sua vida sofreu com o preconceito por ser judeu) saiu de casa muito cedo para se tornar um grande artista da época junto com o surgimento do movimento hippie. Com o passar do tempo ele virou uma espécie de guru para esses jovens que lotavam seus concertos e movimentações em que ele estivesse.
Dylan mostrou o poder que os jovens possuem, apenas com palavras sem utilizar da coerção, da qual o Estado precisava para manter a autoridade e impor certas regras que vão de encontro ao bem-estar social.
As suas letras se opunham às desigualdades, às injustiças, à falta de transparência do governo e à forma de agir do mesmo. Em suas letras ficaram claras suas indignações e suas críticas às autoridades. A grande disparidade social, juntamente com a guerra, que pairava os EUA na época era a grande insatisfação de Dylan. Em suas músicas estavam os temas a serem discutidos por praticamente todos os movimentos de contracultura dos anos 60, como a guerra do Vietnã, a luta pelos direitos civis e os protestos dos jovens estudantes. Bob Dylan entrou na vida da juventude de uma forma muito peculiar, sendo muitas vezes a voz dos jovens em protestos.
Os jovens se colocaram à frente de muitos outros fatores, como a intenção dos governos e das autoridades, que deveriam respeitar e se preocupar com a opinião e a aceitação dessa juventude contestadora, caso contrário todas as manifestações tenderiam a voltar.
Bob Dylan e o rock podem ser considerados como uma síntese deste movimento de contracultura, que juntava os ideais dos jovens de distintas classes em uma cultura que até então não existia, porém existe até hoje. Uma cultura que não tem nome, mas pode ser vista em qualquer lugar adotando determinadas características, como o pacifismo, principalmente para agir e pensar em vários temas, dentro deles as próprias Relações Internacionais, tanto dos Estados quanto dos indivíduos, adotando o idealismo como forma de pensamento, buscando a paz acima de tudo e vivendo em harmonia com os indivíduos e com o meio ambiente.
Rafael Nicolau é ex-aluno do curso de RI da UNICURITIBA. Atualmente mora no Uruguai, onde faz mestrado. A coluna de Cultura e RI vai ao ar todas as quartas-feiras.
Valeu, Rafael. Sou suspeito pra falar, mas achei teu artigo muito representativo do que esta coluna pretende. Abração,
ResponderExcluirCaro Rafael,
ResponderExcluirPrimeiro, fica o elogio pela escolha do tema.
Segundo, ficam algumas críticas para suscitar o debate.
Rafael, você está correto em tomar os movimentos da sociedade civil estadunidense, a exemplo do movimento hippie embalado ao som de Bob Dylan, como atores relevantes no que diz respeito às decisões sobre a guerra do Vietnã. Mas está errado em tomá-los por atores internacionais. Para todos os efeitos, a decisão de pôr fim ao conflito foi do governo dos EUA, este sim um ator internacional, dotado de legitimidade para falar pelo país. O que os movimentos da sociedade civil fizeram foi influenciar, com êxito, o processo decisório. Para usar do jargão da nossa área, estes movimentos foram uma "domestic source" da decisão de pôr fim à guerra.
George Wilson dos Santos Sturaro
mestrando UFRGS
egresso UNICURITIBA
George, como vai?
ResponderExcluirObrigado pelo comentario e pelas críticas.
Queria mencionar que artigo é resultado de um trabalho muito mais profundo, onde eu também enfoco a parte desses atores como influenciador de opinião pública. Na verdade o principal ator internacional do trabalho seria a propria opinião pública, que pelo menos influencia a tomada de decisão dos governantes.
E também, o poder dos jovens como uma certa voz na opinião pública. Seguramente a análise foi feita na Guerra do Vietnã, mas exemplos não faltam como o proprio Maio de 68 na França (citado no texto) e os movimentos contra as ditaduras nos países latinos.
Abraço
Rafael Nicolau
Vou bem, Rafael. E você?
ResponderExcluirNão há dúvida de que a opinião pública influencia decisivamente as decisões governamentais, até mesmo na esfera da segurança internacional, uma esfera tradicionalmente restrita a militares e diplomatas. Nisso, estamos juntos. Porém, tenho dificuldade em conceber a opinião pública como um ator internacional autonomo, porque muito difusa.
Abraço,
George
Interessante.
ResponderExcluirGostaria de lembrar, apenas, o estudo do coronel Harry Summers - on strategy: a critical analysis of the Vietnan war - em que ele fala sobre a guerra do Vietnã.
Uma das maiores contribuições de Clausewitz foi a de que não há vitória se os objetivos políticos não forem atingidos. No Vietnã, os EUA não tinha um objetivo. Lutar sem objetivo é como... tentar atravessar um oceano a braço. Por fim, cansar-se-á e afundar-se-á.
No xadrez, sabemos quando estamos perdendo quando apenas reagimos aos movimentos do adversário. Não temos, aí, um objetivo, mas apenas reagimos ao objetivo de alguém. Daí podemos ver que, embora talvez tenhamos um vantagem material, ela se mostra, no fim, fictícia. Daí o subtítulo do trabalho de Harry Summers: uma vitória tática e uma derrota estratégica.
Ademais, num nível tático, frequentemente vai-se mandar uma pequena unidade para distrair o inimigo do verdadeiro objetivo, como no episódio do Tet. A perda dessa unidade não significa uma derrota se o verdadeiro objetivo foi alcançado.
Lutar contra o comunismo é uma reação a um objetivo, não um objetivo em si. Para vencer uma ideia, devemos criar uma nova capaz de dar uma melhor alternativa.
Nos anos 60, as simulações dos computadores estavam em alta. Aí, perguntou-se a um computador quando a guerra do Vietnã seria vencida. A resposta foi: já a venceste.
O ponto é: pode-se ganhar todas as batalhas e inda perder a guerra.
Apenas isso. Queria lembrar apenas que o Vietnã foi uma derrota, apesar da superioridade militar. E isso num sentido político, porque a guerra é política; não tem uma lógica, apenas uma gramática.
De resto, concordo com os comentários do George. Acho que o termo ''mídia internacional'' hoje não tem tanta utilidade, porque refere-se mais a um espaço onde diversos atores, conforme seus interesses, atuam.
Por fim, acho que o Vietnã foi uma espécie de ''breakthrough'' em muitos sentidos, como o que mencionaste, da questão da mídia e censura etc., e do próprio ponto de vista militar e político.
Os adesivos e camisas que ainda hoje os veteranos usam nos EUA são bastante curiosos: we were winning when I left.
Abraço,
F. Archetti.