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quarta-feira, 23 de março de 2011

Discurso do presidente Obama no Rio de Janeiro

Renato Carneiro Jr.

O discurso do presidente dos EUA no Rio de Janeiro no último fim de semana, veio recheado de referências culturais caras a nós brasileiros. História, futebol, cinema, literatura e música, para ficar apenas nas mais evidentes. É uma boa aplicação da importância da cultura nas Relações Internacionais. Não se diga que o staff do presidente e ele próprio não fizeram a "lição de casa" para agradar os anfitriões. Transcrevo matéria com a íntegra do discurso e passo a palavra, depois, aos comentários de meus colegas internacionalistas.

Na tarde deste domingo (20/03/2011), o presidente norte-americano, Barack Obama, discursou para cerca de 2 mil convidados no Theatro Municipal, na Cinelândia, Rio de Janeiro. Abaixo, leia a tradução, feita por Luiz Marcondes (Fonte: G1)


"Alô, Rio de Janeiro. Alô, Cidade Maravilhosa. Boa tarde todo o povo brasileiro.
Desde o momento em que chegamos, o povo desta cidade tem mostrado para a minha família o calor e a receptividade de seu espírito. Quero agradecer a todos por estarem aqui, pois sei que há um jogo do Vasco ou do Botafogo. Eu sei que os brasileiros não abrem mão do futebol.
Uma das primeiras impressões que tive do Brasil veio de um filme que vi com minha mãe, “Orfeu Negro”. Minha mãe jamais imaginaria que minha primeira viagem ao Brasil seria como presidente dos EUA. Vocês são mesmo um “país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza”.
Ontem tive um encontro com a sua presidente, Dilma Rousseff. Hoje, quero falar com vocês sobre as jornadas dos EUA e do Brasil, que são duas terras com abundantes riquezas naturais. Ambos os países já foram colônias e receberam imigrantes de todo mundo. Os EUA foram a primeira nação a reconhecer a independência do Brasil. O primeiro líder brasileiro a visitar os EUA foi Dom Pedro II.
No Brasil, vocês lutaram contra a ditadura, pedindo para serem ouvidos. Mas esses dias passaram. Hoje, o Brasil é um país onde os cidadãos podem escolher seus líderes e onde um garoto pobre de Pernambuco pode chegar ao posto mais alto do país. Foi essa mudança que vimos na Cidade de Deus. Quero dar os parabéns ao prefeito e ao governador pelo seu excelente trabalho. Porém, não se deve olhar para a favela com pena, mas como uma fonte de artistas, presidentes e pessoas com soluções.
Vocês sabem que esta cidade não foi minha primeira escolha para os Jogos Olímpicos. Porém, se os jogos não pudessem ser realizados em Chicago, o Rio seria minha escolha. O Brasil sempre foi o “país do futuro”. Mas agora esse futuro está aqui.
Estou aqui para dizer que nós, nos EUA, não apenas observamos seus sucessos mas torcemos por ele. Juntos, duas das maiores economias do mundo podem trazer crescimentos. Precisamos de um compromisso com a inovação e com a tecnologia.
Assim, queremos ajudá-los a preparar o país para os jogos. Por isso somos países comprometidos com o meio ambiente. Por isso a metade dos carros daqui podem circular com biocombustível. E, portanto, estamos buscando o mesmo nos EUA, para tornar o mundo mais limpo para nossos filhos.
Sendo o Brasil e os EUA dois países que foram tão enriquecidos pela herança africana, temos que nos comprometer com a ajuda à África. Também estamos ajudando os japoneses hoje. Vocês, aqui no Brasil, receberam a maior imigração japonesa no mundo.
Os EUA e o Brasil são parceiros não apenas por laços de comércio e cultura, mas porque ambos acreditam no poder da democracia, porque nada pode ser tão poderoso. Milhões de pessoas , que subiram da pobreza para a classe média, o fizeram pela liberdade. Vocês são a prova de que a democracia é a maior parceira do progresso humano. A democracia dá a esperança de que todos serão tratados com respeito.
Nós sabemos, nos EUA, como é importante trabalhar juntos, mesmo quando não nos entendemos. Acreditamos que a democracia pode ser lenta, mas ela vai sendo aperfeiçoada com o tempo. Também sabemos que todo ser humano quer ser livre, quer ser ouvido, quer viver sem medo ou discriminação. Todos querem moldar seu próprio destino. São direitos universais e devemos apoiá-los em toda parte.
Onde quer que a luz da liberdade seja acesa, o mundo se torna um lugar melhor. Esse é o exemplo do Brasil, um país que prova que uma ditadura pode se tornar uma próspera democracia e que mostra que um grito por mudanças vindo das ruas pode mudar o mundo.
No passado, foi aqui fora, na Cinelândia, que políticos e artistas protestaram contra a ditadura. Uma das pessoas que protestaram foi presa e sabe o que é viver sem seus direitos mais básicos. Porém, ela também sabe o que é perseverar. Hoje ela é a sua presidente, Dilma Rousseff.
Sabemos que as pessoas antes de nós também enfrentaram desafios e isso une as nossas nações. Portanto, acreditamos que, com a força de vontade, podemos mudar nossos destinos. Obrigado. E que Deus abençoe nossas nações."


Renato Carneiro Jr. é professor de história da Unicuritiba. A coluna de Cultura vai ao ar às quartas-feiras.
Fonte: http://www.guiame.com.br/v4/105554-1452-Leia-a-ntegra-do-discurso-de-Obama-no-Theatro-Municipal-do-RJ.html

2 comentários:

  1. Sim, "culture matters", como concluíram os teóricos da escola construtivista das Relações Internacionais, no rastro de seus colegas da Sociologia Histórica e da Cultura Política.

    Cultura é um fator de aproximação/distanciamento. Para dizê-lo em termos metodológicos, cultura é "condição" (e não "causa", ressalte-se) que, se presente, pode aumentar a probabilidade de que os países venham a cooperar em determinada área das relações internacionais. Se ausente, pode reduzir a probabilidade de que os países alcancem sequer os consensos básicos imprescindíveis ao estabelecimento da cooperação.

    O assunto é instigante. Vamos debatê-lo!


    George Wilson dos Santos Sturaro
    mestrando PPGRI-UFRGS
    egresso UNICURITIBA

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  2. George,
    goswtei da tua intervenção, pois dá um bom posicionamento para a questão da cultura nas RI. Não é condicionante para que haja, mas digamos, um facilitador de processo.
    Abraços,

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